O quinto mandamento da lei de Deus versa sobre o “não matarás”. Além do entendimento óbvio de que se não se deve tirar a vida de outrem, esse mandamento fala também sobre a necessidade de se respeitar a vida humana em todas as suas formas.
O Catecismo da Igreja Católica agrega nesse tópico as instruções sobre a legítima defesa, o homicídio voluntário, o aborto, a eutanásia, o suicídio. Fala também sobre o respeito que se deve ter pela alma do outro, evitando o escândalo, sobre o posicionamento acerca das pesquisas científicas, o respeito à integridade corporal, aos mortos, etc. É um capítulo extenso que abarca tudo que se refere à vida humana.
É neste mesmo capítulo, portanto, que se encontra o pensamento da Igreja sobre o respeito à saude. Ele diz que “a vida e a saúde física são bens preciosos doados por Deus. Devemos cuidar delas com equilíbrio, levando em conta as necessidades alheias e o bem comum.” Ora:
“se a moral apela para o respeito à vida corporal, não faz desta um valor absoluto, insurgindo-se contra uma concepção neo-pagã que tende a promover o culto ao corpo, a tudo sacrificar-lhe, a idolatrar a perfeição física e o êxito esportivo. Em razão da escolha seletiva que faz entre os fortes e os fracos, tal concepção pode conduzir à perversão das relações humanas.” (CIC 2288-2289)
“A perversão das relações humanas” é o que claramente se vê nos tempos atuais. Recordando-se que o pecado original introduziu na humanidade uma espécie de idolatria na maneira de amar, desvirtuando-a, observa-se que esta idolatria produz uma tendência de senhor/escravo. Quando essa dicotomia cresce sem controle torna-se o chamado sadomasoquismo, no qual o ‘senhor’ sente prazer em provocar dor e mutilação no ‘escravo’, que, por sua vez, se compraz em ser propriedade de alguém e em ser mutilado. É justamente essa a cultura que está na base do ‘piercing’.
O Catecismo é cristalino ao dizer que “fora das indicações médicas de ordem estritamente terapêutica, as amputações, mutilações ou esterilizações diretamente voluntárias de pessoas inocentes são contrárias à lei moral.” (CIC 2297) Esta mesma orientação serve para as tatuagens.
É evidente que uma tatuagem e um piercing, de maneira isolada, não podem ser considerados intrinsecamente maus. Necessário se faz, como a Igreja, analisar o conjunto, o contexto em que eles são empregados. Enxergar a razão pela qual a pessoa submete-se à violência que tanto um quanto o outro representa para seu próprio corpo e contra o quê, de fato, ela está lutando, constitui a resposta para esta questão.
O pecado, como se sabe, é uma invenção angélica, portanto, é uma realidade espiritual. Deste modo, a atitude espiritual por trás é que vai definir se determinada prática no mundo real é ou não uma transgressão.
O contexto espiritual da tatuagem na cultura ocidental, cuja matriz é cristã, é a atitude de revolta, do desejo de se romper com os parâmetros tradicionais e de se inventar um novo jeito de amar e ser amado. E, se o que rege esse novo modo de ser é o sadomasoquismo, então, adentrar nessa cultura pode ser o início do declive espiritual que leva a um erotismo exacerbado que acaba por degradar ainda mais a forma correta de amar.
Na base dessas duas práticas, em termos gerais, existe uma atitude espiritual de não respeito pela ordem da criação divina e pelo modo que Ele deixou como regra para amar. Além disso, observa-se também uma atitude de profanação e dessacralização do que é templo de Deus, o corpo humano. E isso é totalmente contrário ao quinto mandamento da lei divina. Não se esquecendo ainda que também o corpo, obra maior da Criação, vai ressuscitar e entrar no céu, na glória de Deus por todos os séculos.
Fonte: Padre Paulo Ricardo